'Wicked' é adaptação fantástica, feita por (e para) fãs de musicais; g1 já viu



Ariana Grande e Cynthia Erivo brilham em versão para o cinema do sucesso da Broadway. Primeira parte da produção estreia nesta quinta-feira (21) no Brasil. ‘Wicked’, filme de 2024
Reprodução
São tempos estranhos para os musicais. Em 2023, os trailers de filmes como “Meninas Malvadas” e “Wonka” tiveram que “esconder” a cantoria das cenas para atrair mais pessoas ao cinema. “A Cor Púrpura” não escondeu, mas decepcionou nas bilheterias e nas críticas. Já em 2024, “Coringa: Delírio a Dois” foi mal-recebido por ser um musical feito por um diretor que não ama o formato.
Mas neste mar de “azar” para o gênero, “Wicked” estreia nesta quinta (21) nos cinemas brasileiros e pode ter encontrado uma saída. Claro, o filme já contava com vantagens, como um universo conhecido: “Wicked” se passa na terra de Oz e começa antes da história de “O Mágico de Oz” (1939). É também uma adaptação de um dos musicais mais queridos da Broadway e, para todos os efeitos, bastava saber traduzir bem a história e o filme seria um sucesso.
“Wicked” triunfa por não mexer em time que está ganhando. O filme não se preocupa em conquistar quem não curte musicais – em vez disso, pretende orgulhar os “theater kids” (como são chamados os fãs do teatro musical) que sempre amaram a história.
Desafiando a gravidade de uma enorme expectativa, “Wicked” acerta a fórmula das adaptações. Ele se junta a nomes como “Chicago” e “West Side Story” na lista de ótimas peças da Broadway transformadas em ótimos filmes.
Assista ao trailer de ‘Wicked’
Uma história em dois atos
Para adaptar um dos espetáculos mais bem-sucedidos da história da Broadway, os criadores optaram por dividir a história em dois filmes. O primeiro estreia nesta quinta; o segundo está previsto para novembro de 2025.
A trama conta a história de Elphaba, uma jovem que nasceu com a pele verde e que se tornará a “Bruxa Má do Oeste” retratada em “Mágico de Oz”. Ela entra na Universidade Shiz, onde conhece Galinda (que se tornará “Glinda, a Bruxa Boa”). Revestida de fantasia, a fábula é centrada na amizade, mas também fala sobre injustiça, preconceito e até autoritarismo.
Com a divisão, feita no fim do primeiro ato da peça, ainda não vemos essa transformação completa das personagens. Mas a história não é prejudicada. Na verdade, se o segundo filme não existisse, o primeiro já funcionaria – especialmente com a grandeza de “Defying Gravity”, sucesso do musical que encerra este filme.
As protagonistas
Ariana Grande como Glinda em ‘Wicked’
Divulgação
Como a adaptação não pretendia alterar muito da peça original, a escalação das protagonistas era uma das questões mais importantes de “Wicked”.
Nos palcos, Elphaba e Glinda foram interpretadas pela primeira vez por Idina Menzel e Kristin Chenoweth – nomes que entraram para o Olimpo da Broadway.
Então, para o filme, a apreensão surgiu logo com o anúncio de Ariana Grande – uma das maiores popstars deste século – no papel de Glinda. Afinal, a cantora tem inúmeros hits, mas pouca experiência cinematográfica.
Mas Ariana é assumidamente fã do espetáculo e diz ter se dedicado com unhas e dentes ao papel. A dedicação rendeu frutos visíveis. Ela dá a delicadeza e pose necessárias a Glinda, sem perder o timing cômico que consagrou a “bruxa boa” desde a primeira montagem da Broadway.
Ariana também capricha nas melodias operísticas de canções como “No One Mourns The Wicked”. Seus vocais no papel estão notoriamente distintos da voz que a tornou conhecida no pop. Quem está presente em tela é a atriz, não a popstar.
Cynthia Erivo como Elphaba em ‘Wicked’
Divulgação
Ainda bem, porque ela divide a tela com uma titã do teatro musical. Elphaba é interpretada por Cynthia Erivo, que já venceu um Tony, um Grammy e um Emmy. E já foi indicada ao Oscar. É também uma das primeiras atrizes negras a assumir o papel (mesmo após diversas montagens de “Wicked” na Broadway), o que é até irônico para uma personagem discriminada por seu tom de pele.
É um papel que requer nuances. Elphaba é uma bruxa fechada, firme, mas sensível. Sem a comicidade de Glinda, é preciso ter cuidado na interpretação, para garantir o amor do público pela protagonista.
Cynthia acerta o tom e traz doçura à “bruxa má”, com a ajuda de seus potentes vocais que arrematam o filme com grandeza. Juntas, Cynthia e Ariana são o coração de “Wicked”, com química e charme.
Toda a mágica de um musical
‘Wicked’, filme de 2024
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“Wicked” diz a que veio logo na primeira cena. Da abertura ao encerramento, o filme segue muito bem a cartilha do musical, crescendo as canções, os arranjos e os cenários à medida que a trama pede.
Assim como fez em “Em Um Bairro de Nova York”, o diretor Jon M. Chu traduz bem a história para o cinema. E como o universo permite o máximo de fantasia, parece que “Wicked” nasceu para ser um filme. Para além das cenas do musical (e muitos diálogos reproduzidos como na peça), o roteiro complementa a história com mais diálogo e capricha no sensorial. Isso é nítido na cena do baile, que marca a virada na relação entre Glinda e Elphaba, e é um dos pontos altos do filme.
Em comparação com as grandes vocalistas nos papéis principais, alguns nomes do elenco dominam melhor a câmera que a voz. Jeff Goldblum, Michelle Yeoh e Peter Dinklage cantam versões contidas das músicas da Broadway, o que pode frustrar fãs da peça.
Jeff Goldblum e Michelle Yeoh em ‘Wicked’
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No papel do príncipe Fiyero, Jonathan Bailey é um bom vocalista e ainda melhor ator. É difícil pensar em alguém tão charmoso e arrogante para interpretar o personagem.
A maior crítica aqui é à cor do filme, que muitas vezes é mais “apagada” que o necessário – inclusive considerando que “O Mágico de Oz” se destacou justamente pelo uso do Technicolor, tecnologia que coloria as cenas por meio de filtros de cor.
Mas isso é um detalhe. Feito por (e para) fãs de teatro musical, “Wicked” consegue aproveitar o charme que consagrou a história nos palcos e deve conquistar novos públicos, inclusive famílias. Se for bem-sucedido como promete, o desafio para a sequência será justamente manter os novos fãs, que devem exigir o mesmo cuidado com a parte 2.
Cartela resenha crítica g1
g1


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