Isabel Allende fala de novo romance e critica governo Trump: ‘Política devastadora’ | Pop & Arte


Isabel Allende – A escrita me ajuda. Pode ser uma carta, pode ser um livro, pode ser um relato. Quando escrevo algo — uma dor muito grande, uma emoção muito forte — ao escrever, eu entendo, eu compreendo. Quando a Paula ficou doente, ela passou um ano em coma. Esse ano, pra mim, foi uma longa noite. Eu não conseguia distinguir um dia do outro. Só me lembrava do momento em que a levei de Madri pra Califórnia, em coma, num voo comercial. Não sei como consegui. Isso eu lembro. Mas o resto foi como uma noite interminável. E quando Paula morreu, minha mãe me entregou as cartas que eu tinha escrito pra ela durante aquele ano. E assim consegui ver, dia após dia, o que tinha acontecido. E ao transformar aquilo num livro, eu entendi. E aceitei. Eu compreendi que a única saída para minha filha era a morte. Ela estava presa num corpo que já não funcionava. Aceitar isso me custou muitas lágrimas. Mas escrever me ajudou. Foi uma catarse. E toda vez que passo por um momento difícil ou muito doloroso, se eu escrevo sobre aquilo, parece que eu consigo lidar melhor.
Fonte Original