Dólar e Ibovespa operam em queda, à espera da resposta do Brasil ao tarifaço
Em resposta à chantagem de Trump, Lula diz que vai taxar gigantes americanas de tecnologia
O dólar inverteu o sinal positivo visto no início da sessão e opera em queda de 0,13% nesta sexta-feira (18), cotado a R$ 5,5394 por volta das 10h30. O Ibovespa, principal índice acionário da bolsa de valores brasileira, caía 0,34% no mesmo horário, aos 135.109 pontos.
O mercado acompanha as tensões entre Brasil e Estados Unidos, depois que o presidente americano, Donald Trump anunciou uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiro.
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▶️ Em sua carta, Trump cita as investigações contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) como um dos motivos para a taxação. Nesta sexta, Bolsonaro foi alvo de uma nova operação da Polícia Federal, que apura os crimes de coação no curso do processo, obstrução de Justiça e ataque à soberania nacional. (saiba mais abaixo)
Moraes autorizou a operação, afirmando que houve atuação consciente, dolosa e ilícita, em conjunto com Eduardo Bolsonaro (PL-SP), com o objetivo de submeter o STF “ao crivo de outro Estado por meio de atos hostis derivados de negociações espúrias e criminosas com patente obstrução à Justiça e clara”.
Pela decisão, o ex-presidente deve usar tornozeleira eletrônica, está proibido de se aproximar de embaixadas e consulados, bem como de manter contato com outros réus e investigados. Além disso, não pode se comunicar com embaixadores ou quaisquer autoridades estrangeiras, nem mesmo por meio de terceiros.
Trump ainda não se pronunciou, mas investidores já acompanham os possíveis desdobramentos dessa nova operação no contexto do tarifaço.
▶️ No Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez um pronunciamento oficial e classificou a decisão de Trump como “chantagem inaceitável”. O petista também defendeu o Judiciário brasileiro e afirmou que qualquer tentativa de interferência representa “um grave atentado à soberania nacional”.
“Minha indignação é ainda maior por saber que esse ataque ao Brasil tem o apoio de alguns políticos brasileiros. São verdadeiros traidores da pátria. Apostam no quanto pior, melhor. Não se importam com a economia do país e os danos causados ao nosso povo”, disse Lula, em rede nacional de rádio e TV.
▶️ Mais cedo, em entrevista à jornalista Christiane Amanpour, da CNN Internacional, Lula afirmou que não quer ser refém dos EUA e que busca liberdade para o comércio internacional.
“Não podemos deixar o presidente Trump esquecer que ele foi eleito para governar os EUA. Ele não foi eleito para ser o imperador do mundo”, disse Lula.
A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, rebateu, afirmando que Trump “não está tentando ser o imperador do mundo”. “Ele é um presidente forte (…) e também é o líder do mundo livre. E vimos uma grande mudança em todo o globo por causa da liderança firme deste presidente”, disse.
▶️ Em paralelo, o vice-presidente Geraldo Alckmin mantém reuniões com representantes do setor produtivo para elaborar uma resposta do governo brasileiro ao aumento tarifário. Nesta sexta, ele se reúne com Raul Jungmann, presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram).
▶️ No exterior, Trump passou também a direcionar críticas às autoridades do Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA, assim como fazia com o presidente da instituição, Jerome Powell.
“A diretoria do Fed não fez nada para impedir que esse ‘idiota’ [Powell] prejudique tantas pessoas. Em muitos aspectos, a diretoria é igualmente culpada!”, escreveu em sua plataforma de mídia social.
“Os EUA estão com tudo — a inflação está MUITO BAIXA, e merecemos estar com uma taxa de 1%, economizando US$ 1 trilhão por ano em custos com juros. Não posso expressar o quão insensato é o ‘Tarde Demais’ [Powell] — é péssimo para o nosso país!”, disse Trump.
▶️ Por fim, analistas acompanham indicadores econômicos, como as expectativas de inflação e o sentimento do consumidor nos EUA, em mais um dia com agenda esvaziada.
Veja abaixo como esses fatores impactam o mercado.
Entenda o que faz o preço do dólar subir ou cair
💲Dólar
a
Acumulado da semana: -0,02%;
Acumulado do mês: +2,08%;
Acumulado do ano: -10,24%.
📈Ibovespa
Acumulado da semana: -0,58%;
Acumulado da semana: -0,46%;
Acumulado do mês: -2,37%;
Acumulado do ano: +12,70%.
Operação contra Jair Bolsonaro
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi alvo de uma operação da PF nesta sexta e passou a usar tornozeleira eletrônica por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do STF. A decisão foi tomada após uma operação da Polícia Federal que apura uma suposta tentativa de extorsão contra o Judiciário brasileiro.
Segundo Moraes, Bolsonaro admitiu ter condicionado o fim das tarifas impostas por Donald Trump à obtenção de anistia judicial. O processo apura os crimes de coação no curso do processo, obstrução de Justiça e ataque à soberania nacional.
Moraes afirma que Bolsonaro agiu em parceria com o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), atualmente nos EUA, para pressionar o STF e desestabilizar as instituições.
“As condutas de Eduardo Bolsonaro e Jair Bolsonaro caracterizam claros e expressos atos executórios e flagrantes confissões da prática dos atos criminosos”, afirmou o magistrado.
A PF também identificou indícios de que Bolsonaro planejava fugir do país, o que motivou a adoção das medidas cautelares. Bolsonaro está submetido a recolhimento domiciliar noturno, está proibido de utilizar redes sociais, visitar embaixadas ou manter contato com outros investigados.
Em entrevista coletiva, o ex-presidente negou qualquer intenção de evasão e classificou as ações como “humilhação” e “perseguição política”.
Trump volta a pressionar o Fed
Donald Trump voltou a criticar o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, chamando-o de “idiota” e culpando o banco central por prejudicar a população ao manter os juros elevados. A pressão ocorre às vésperas da reunião de política monetária marcada para 29 e 30 de julho.
Os dados recentes sobre o varejo e o mercado de trabalho reforçaram o ímpeto da economia dos EUA e influenciam as apostas em cortes de juros. A maioria das autoridades do Fed ainda adota cautela, mas há sinais de divisão interna.
Christopher Waller, diretor do Fed e cotado para substituir Powell, defendeu um corte de 25 pontos-base ainda neste mês. Ele argumenta que a economia está mais branda e que os riscos ao emprego aumentaram, o que justificaria o início de um ciclo de afrouxamento.
Waller descartou impacto inflacionário persistente das tarifas e disse que a política monetária deve se adaptar caso a economia desacelere mais rapidamente.
“Esperar até setembro nos colocaria em risco de ficar atrás da curva”, afirmou. Ele também negou ter sido sondado pela Casa Branca para assumir a presidência do Fed.
União Europeia tenta evitar tarifas
Negociadores da União Europeia encerraram nesta sexta-feira uma rodada “intensiva” de reuniões com autoridades dos EUA em Washington para tentar evitar a imposição de novas tarifas. O comissário europeu de Comércio, Maros Sefcovic, conduziu os encontros com os representantes americanos.
Segundo um porta-voz da Comissão Europeia, a fase final das negociações é a mais difícil, e será preciso “esforço genuíno de ambas as partes” para alcançar um acordo. Sefcovic informará os resultados aos representantes dos países-membros ainda nesta sexta.
Não foram divulgados detalhes específicos das conversas, mas o bloco europeu já vinha pressionando por isenções e ajustes nas propostas tarifárias unilaterais de Washington.
Funcionário de banco em Jacarta, na Indonésia, conta notas de dólar, em 10 de abril de 2025.
Tatan Syuflana/ AP
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